Quem me acompanha desde o
começo sabe que eu sou fãzona do parto normal. Eu me preparei anos e anos para isso. Eu estudei, eu procurei um médico humanizado, eu tinha uma doula.
O que eu não tinha era controle, e o desenrolar da história veio para me provar isso: A vida não se controla.
Quando descobri a
Atresia de Duodeno, eu já desconfiava que meu sonhado parto natural não aconteceria, mas sempre há uma pontinha de esperança. E eu me agarrei à ela.
Mas a realidade bateu à porta e, ao ter o diagnóstico do Marcelo, procurei a opinião de alguns cirurgiões pediátricos e todos me indicaram o hospital Santa Joana. Nacionalmente conhecido como campeão das cesáreas, ele não fazia parte da lista de hospitais que eu havia cogitado para ter meus filhos. Conversei com meu obstetra Dr. Braulio Zorzella, e ele me disse que não atendia no Santa Joana. Eu via minhas chances se esvaindo... a cada dia um empecilho.
Bom, era dia 5 de Janeiro, eu estava enorme, cansada. Tomava diariamente minhas injeções de anticoagulante, estava já sem posição e o polidrâmnio havia voltado após apenas 2 semanas da última amniorredução. Eu já cogitava fazer uma segunda, estava determinada a levar a gestação até as 38 semanas, pelo menos.
Fui ao posto de saúde buscar uma receita para pegar o Clexane na rede pública. Voltei para casa, almocei e me deitei para uma soneca da tarde. Senti algo molhado na calcinha. Fui ao banheiro e estava levemente molhada, achei estranho, coloquei um absorvente diário e resolvi aguardar. 5 minutos depois estava encharcado. Mostrei para minha mãe, chamei um táxi e fui para o Santa Joana, achei que era hora.
A bolsa estourou e eu estava com 31 semanas. Putz! E agora. Liguei para meu obstetra anterior, Dr. Nisida. Me internaram, óbvio, mas como não haviam contrações, a conduta foi esperar. Sim é possível esperar com bolsa rota. Eu fiquei internada por 3 semanas. Com 3 dias o líquido havia parado de vazar, e a bolsa encheu novamente. Teve até polidrâmnio de novo. Depois de 7 dias, vazava lentamente, mas eu bebia muita água, e isso ajudava a manter meu menino dentro d'água.
Quando completei 34 semanas, meu médico sugeriu agendarmos a cesária. Disse que a partir desse momento o risco de infecção (que sempre existiu, por isso a internação) era maior do que o risco deles nascerem muito prematuros. Eu disse não. Isso era uma sexta-feira. No sábado comecei a sentir contrações pela manhã. Aguardei e não chamei o médico, e perto do meio-dia, haviam cessado. No domingo a mesma coisa, começou e parou. Na segunda-feira, de novo, de tarde haviam cessado.
Na segunda-feira à noite, eu me sentia estranha... pedi para a enfermeira rodar um cardio-toco antes de eu aplicar o Clexane (a cesária precisaria de 12 horas para ser feita após o uso do anticoagulante) Ela assim fez, e nada... nada de contrações. Apliquei a medicação... só que então... 3 horas depois eu acordo com contrações. UMA ATRÁS DA OUTRA. Rodaram o cardio-toco, e tava lá... ritmadinho. Logo veio a médica do plantão me avisando que ela "terminariam a gestação ali". Sem mais, sem menos. Era o Santa Joana lembra, padrão em humanização, sqn. :(
Eram 3 horas da manhã. Pedi que ligasse para meu obstetra, (a essa altura eu já consultava dois obstetras, o humanizado e o regular, não deixei a humanização porque eu ainda acreditava no Parto Natural). Ligaram para o Dr. Nisida. Ele pediu para me encaminharem para o centro cirúrgico. Ele não quis arriscar o parto normal, mas para piorar tudo, tinha mais um problema... eu havia tomado Clexane a menos de 12 horas, e você sabe o que isso queria dizer?
Anestesia Geral. Gelei. Eu não veria meus filhos nascerem. O médico fez uma pressão, botou um medinho de leve, disse que se esperássemos poderia ser tarde demais, as contrações poderiam ritmar e a cesárea poderia não ser mais uma opção... eu não tinha dilatação, eu queria esperar, mas tinha medo. Na hora pareceu a coisa certa a fazer... minha doula havia viajado de férias...
Me apagaram no centro cirúrgico.
Eles nasceram.
Eu não vi.
Quando acordei sentia dores horríveis. Muita dor. Mas e meus filhos? O que aconteceu? Meu marido me mostrou essas fotos:
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Melissa |
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Marcelo |
E foi assim que conheci meus filhos.
Continua...